É muito difícil todo fim e inicio de ano ter que lidar com essa informação (que é uma desinformação) sendo espalhada por todos os lados e ter que explicar e além de tudo lutar contra essa maré que quer tornar isso uma verdade.
Quem estuda Astrologia Tradicional (Astrologia que foi aplicada até o período da Renascença) sabe que nenhum astrólogo fala sobre “Planeta regente do ano”. O que existe é o mapa de Ingresso do Ano, onde fala-se sobre a cidade ou o país, o governo, o povo, e tudo que envolve aquela sociedade durante aquele período.
Aproximadamente dos anos 20 pra cá, com os meios de comunicação e a astrologia ressurgindo dentro de uma esfera principalmente psicológica e de auto-conhecimento, ela foi inserida nesses meios de comunicação nas formas de horóscopo e aqui no Brasil especialmente, começou-se a difundir esses mitos de inferno astral, planeta regente do ano, a pessoa ser mais o ascendente depois dos 30 anos e por aí vai. Infelizmente isso é algo puramente comercial, esses meios precisam ganhar dinheiro e a Astrologia moderna ganhando espaço, ajudou e muito.
A crise ética está em tudo, inclusive no mundo astrológico. Atualmente a quantidade de likes e corações, de acessos e textos de auto-ajuda misturados com astrologia é a medida de sucesso, porém muitas vezes à custa de pouquíssimo fundamento astrológico, sem respeito e sem responsabilidade com essa Arte.
E falo aqui que já indaguei pessoas, astrólogos, que escrevem sobre esse assunto e tive três tipos de posturas: a 1ª – a mais comum – é falar que isso é tradição astrológica sim, que vem dos caldeus, da história da estrela das sete pontas e que cada ponta representa 1 planeta/1 ano. Não tem fontes disso, é algo bem discutível. Na 2ª, falam que é tradição astrológica, que algum autor X do passado falou isso, mas na hora de falar quem é e qual livro, não respondem mais. E na 3ª, simplesmente não sabem de onde vem, mas repassam a informação (principalmente pela medida do sucesso citada a cima).
Neste fim de ano, pra piorar, inventaram um tal ciclo de 36 anos de Saturno. Muitas pessoas ficaram assustadas, recebi diversas mensagens inbox, pessoas vindo falar comigo, querendo saber sobre isso, que isso é ruim, que Saturno é aquilo etc, etc. Vejam a que ponto chegam as coisas!
E de novo, astrólogos diversos, compactuando com isso, e na hora de saber de onde vem a informação, não sabem dizer ou de novo falam que é tradição astrológica e ponto.
Para ser tradição astrológica deve ter no mínimo, no mínimo, 300 anos de aplicação e de resultados! Os fundamentos astrológicos são de autores até essa época (século XVII), depois disso não é, pois a astrologia quase se perdeu e quando foi resgatada no final do século XIX, já foi misturada a outras coisas, como a teosofia, o positivismo e a psicologia, e claro, muita coisa se perdeu, e vários no movimento da nova astrologia não tiveram acesso a materiais antigos, como hoje já temos.
Portanto, sempre que lemos algo temos que saber de onde o autor que postou aquilo bebeu, qual a fonte, qual o autor, qual o livro. Se for livro que encontramos nas livrarias é astrologia moderna (99%) e não de autores tradicionais. Estudar astrólogos antigos, gregos, árabes é muito mais complexo; achar textos, muitos sem tradução, recorrer a professores que entendam, que expliquem; compreender um texto antigo. Gasta-se muito tempo, é muita dedicação, todo dia é um desafio e também aprendizado. Se aquele post não tem explicações e não tem fonte, questione.
Teria dezenas de astrólogos tradicionais pra citar aqui que, com certeza, também dão o sangue para o resgate da tradição, trazer esse saber de longa data, dar a devida importância e reconhecimento que a Astrologia tanto merece. Tenho esperanças que esse dia vai chegar, mas é um trabalho de formiguinha e que não pode ter inverdades (ou falta de conhecimento) como base. Exige muita força e determinação para não sucumbir no meio de tanta banalização e desinformação que lemos por aí. A onda não vai nos levar.
Conto com o poder de discernimento e julgamento das pessoas que lêem essa página.
Grata,
Ana.